segunda-feira, agosto 07, 2006

Longas são as noites...

Em www.fotolog.com/vanish_ladies


Longas são as noites quando o burburinho das ideias me tolda o silêncio dos sonhos. Atordoa-me a vontade de rasgar palavras ao papel, como se assim despedaçasse os pedaços mortos dos pensamentos que não ousei dizer. Há uma qualquer agonia no que escrevo, como se em cada frase doessem os gritos que não dei e tudo o que optei por calar em mim. As palavras que desmaiam nos meus lábios, esquecidas de acontecer, mais tarde ou mais cedo queimam-me o coração. Não sou de rancores, quebro os laços e perdoo o que silenciarei para não mais retomar.

Não gosto de cinzentos, de indecisos, de meios termos. A navegar aprendi a apaziguar as tempestades, mas também a fugir dos céus despidos de estrelas. Já carrego suficientes dúvidas comigo e o desafio de me enfrentar dia para dia; complicações de sobra, diria. Admiro a ira dos ventos e das ondas que nos fustigam, para mim, contudo, apenas almejo o pôr, antiquado e um pouco melancólico, do sol. Ardi em tormentos mil para domesticar as sereias que me cantavam tentações aos ouvidos, agora não vou abdicar da tranquilidade quase outonal da minha travessia. Quero um traço inequívoco na linha das tuas mãos; despedacei todos os esquissos e sombras. Queres fábulas, eu dou-te lendas; mas tudo escrito em papel vegetal porque os trunfos devem estar à vista. É este o meu abrigo, as minhas regras, o meu único pedido. É este...

Longas são as noites quando a vontade não pode mais que o desejo. Um passo separa-me dos corpos abandonados das palavras que não disse, percorro-o, sangrando um pouco, mas ciente de que é esta a minha verdade. Arrisco e não temo, se a compreensão requer coragem. Porque desta vez eu não coleccionarei fantasmas, porque hoje soltarei os monstros debaixo da cama. Esta noite, liberta do peso dos silêncios, respirarei profundamente a tua presença e, feliz, adormecerei...

5 comentários:

S. disse...

Os adamastores de hoje alimentam-se das superstições que carregamos, mas eu já dobrei o meu cabo das tormentas e não vou olhar para trás. Sim, o que desejo é a ataraxia despretensiosa do mar calmo onde cheguei. Como todos os outros, ando atrás da luz, sou pirata de sonhos, procurando roubar suspiros à outra face da lua. E isso basta-me, sabes, o desafio de evitar as correntes, de saquear tesouros a almas sedentas de luz. Os duelos que travo não sangrarão mais.
O murmúrio que antes me manteve acordada, agora adormece-me como uma doce melodia sussurada aos meus ouvidos. A vontade tem contornos de saudade e os desejos são simples, desmistificados, porque já abandonei o tempo das trevas. Não se acabaram os riscos, nem as aventuras, só as ilusões e as quimeras.
É este o meu caminho.

Anónimo disse...

Visitei-te e gostei muito da naturalidade com que escreves. voltarei

pecado original disse...

"Longas são as noites quando a vontade não pode mais que o desejo"

sabes o que é isto? Um certo pecado que me ilustra.

Escreves divinamente e com gratidão te receberei no meu blog.

Voltarei quando o tempo me permitir.
beijinho

Anónimo disse...

Olá Samanta, passei para te agradecer a visita e dizer que achei o teu espaço mt agradável...vou conhecer o resto da casa...até já.

Sandra disse...

Oh minha linda os teus textos deixam-me sempre sem palavras!Texto fantástico!É impossível não nos identificarmos com algumas partes!
Adorei a última frase!Espectacular!
Bjinho muito grande*****