sexta-feira, fevereiro 16, 2007

As time goes by

Um ano...



Que tem o perfume das palavras derramadas nos olhares que as esperavam.
Obrigada por tornarem este sonho possivel.
Bem vindos ao meu mundo secreto *piscar de olho*
Nota Desculpem a ausencia de acentos, mas ainda n decifrei os recantos ocultos de um teclado estrangeiro. Beijos de Budapeste.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Pensamentos soltos



Era do barulho arrepiando-me o vómito que eu estava farta. Por isso, construí um muro de certezas e pus-me do lado dos sensatos, daqueles que viam o que mais ninguém queria ver, os que assumiam as verdades como elas são. Fiz-me heroína de história alheia, mais tolerante e mais compreensiva, mas não por acreditar num Homem melhor. Fi-lo porque me enojar a hipocrisia, por pensar que da comunidade é simplesmente o dever de cuidar o melhor possível das cicatrizes de alguém, certo ou errado. Nunca foi uma questão de opção o que argui, queria tão só dignidade. Pedia respeito por uma dor que não é de ninguém senão de quem a traz no ventre, por uma vida que merece amor desde o primeiro instante. Para que mais ninguém se sentisse sozinho, enquanto houver mãos para estender. E estive tão segura da minha opção que me doía a alma ver da vida feita roupa lavada em praça pública. Deixei-me cegar ao medo de mudar de ideias. Fechei os olhos e esperei que tudo passasse rápido. Ganhámos (todos?). E só então, sentada na sala vazia, depois de passar o cortejo, ouvi as lágrimas que amarrei durante tanto tempo contra a arrogância e perguntei-me se da guerra que travámos não saíram apenas feridos. Espero, ardendo na febre da desolação, que tenhamos escolhido o caminho certo...

E, enquanto a sociedade navega para outras águas, a vida de todos os dias continua na sua habitual placidez. Porque até a vida e a morte precisam do bendito papel («que papel?», o papel). E lá vou exercitando a minha capacidade de me rir do ridículo, enquanto um burocrata dos serviços saltita pela sala apinhada de gente cansada e mal-humorada para abrir a porta a cada pessoa que resolve sair. Isto porque é de extrema importância certificar-se de que ninguém entra depois da hora de serviço... Ou quase... Afinal, talvez o relógio esteja avariado... Também que diferença faz se encerram às 16h ou às 15h45? Porque é que as pessoas hão de andar sempre tão insatisfeitas? Faz todo o sentido, claro. Alguém que acompanhe as pessoas à porta, serviço de qualidade, não é o que se elogia no estrangeiro? No entretanto, os processos continuam a acumular na secretária, diante do olhar vazio do resto dos burocratas, que agora estão a cumprimentar a recém-mamã que chegou com o seu bebé. Não importa se o viram ontem, certamente que têm considerações a fazer sobre como o petiz «está grande e esperto». E lá vai mais uma pausa para café, porque é cansativo isto dos papéis («que papéis?», os papéis). As pessoas mexem-se, impacientes, e tossem. O velho do restelo vai-se aventurando a transformar os dizeres entredentes em críticas acesas, mete convesa com toda a gente, tudo está errado neste país. E começa na funcionária que enrola o cabelo com ar sonhador, enquanto fala ao telefone. Assuntos de trabalho, certamente. Quaisquer duas horas chegam para arranjar o papel. Isto se não tiver que voltar amanhã porque falta o documento. A máquina das senhas avariou, por isso chamam as pessoas em voz alta. O único senão é que só conhecem a letra C. É pena que a maior parte esteja para a letra A, mas porque é que havemos de ser tão esquisitos? Chegou a minha vez. Nem acredito. Esboço o meu melhor sorriso, não vá a minha cara criar mais um obstáculo à obtenção do (precioso) papel. Se calhar, enganei-me na letra. Mas para que serve a entrega de documentos?, pergunto. "Para entregar documentos", ora lá está, obviamente. Faz todo o sentido.