sexta-feira, agosto 17, 2007

Homenagem


Orgulham-me.



Os vossos corações de ossos largos
Que me pariram as asas
E moldaram um sol de plasticina
Que, na vertigem das quedas,
Não me derretesse o azul.

Esses corações
Que explodem em fogos-de-artifício
Desligando a escuridão
Arco-íris de Inverno
Nas lágrimas que vos lambem o sorriso
Que me orgulha
Meu Deus, como me orgulha!

O mais do que sou
É o que deixo em vós.

O vento corta-me as penas
E no voo arranha-me o horizonte
Mas tenho nas células tatuada
A herança genética dos novos mundos

Evado-me.

O mais que tenho
É o que levo de vós.

O olhar melífluo
Pousado sobre o mar
[Eu sei que dói mais ficar]
E nos braços força suficiente
Para o desbravar
[Eu sei que é preciso coragem para esperar]


Meus heróis de alma inteira,
Tudo o que levo na algibeira
É muita sede de mundo
E a certeza de que tenho no vosso peito fundo
O melhor motivo para voltar.

sexta-feira, agosto 10, 2007

Palavras para quê?



Hoje apeteceu-me desesperadamente soltar as palavras, enrugar os sentimentos até os fazer caber na ponta da minha caneta.

Quase violei a ética dos silêncios no pânico de esquecer o som da minha voz. A violenta beleza do mundo que me sacode os passos tortura-me a existência com a certeza de se apagarem a cada virar das horas. [Tenho a alma embriagada de eternidade e a humanidade aprisionada dentro das quatro paredes da lucidez.] É de novo aquela claustrofobia espremendo-me o coração no papel, de novo aquele desejo de escrever esmurrando-me, rasgando-me os poros ao faro do sangue, algo que prove tu és, tu estás. Como se, quando ninguém me pode encontrar, eu não existisse.

Quase verti, quase traí os segredos. Tê-lo-ia feito, não fosse a picada de vazio, precedendo o orgasmo das palavras que consumam as memórias, doer-me o esófago e, no vómito compulsivo das vogais, descobrir que lhes azedo a magia.

Só então percebi a burocracia dos meus textos, submissos, como pedindo licença para acontecerem. Não preciso que me passem um certificado de vivência! Os momentos têm a consistência da minha energia, são carnais e apodrecem.

Mas porque é que isso me há-de importar?