sábado, fevereiro 18, 2006

Este tipo de cansaço...

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos

Não há nada que eu deva dizer, nenhuma palavra a acrescentar... Houve alguém que já disse tudo por mim. Cansaço... Do u feel the same?

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Brokeback mountain


Que mundo é este que não tolera a diferença? Mas se somos nós que vivemos nele, que o absorvemos e o repetimos em cada gesto espontâneo ou racional... Então porque nos fechamos à mudança, porque caminhamos em círculos, reféns dos nossos próprios preconceitos? Se tu não és igual a mim, o que é que faz de ti errado? Errado é continuam a manter pessoas soterradas em medos, debaixo de dedos apontados, é a caça às bruxas deste século. Quero uma sociedade de liberdade efectiva, quero pessoas honestas consigo próprias, porque a insegurança é a maior arma de arremesso. Deixem a essência das coisas emergir, que cada um se assuma na sua identidade única, sem se sentirem ameaçados por isso. Só temo a hipocrisia... Porque a alimentamos? Diz-me que mal há em ser-se do contra, em vestir a roupa do avesso, em andar-s de pernas para o ar! De que me servem leis se as consciências contam uma história diferente? Dêem-me pessoas autênticas, sentimentos verdadeiros que não precisam de se esconder do mundo e nem afogam em culpas que não são deles. Porque deverá alguém envergonhar-se do amor que sente, se ele for profundo, se for sincero, se for o seu sangue e alma. O que há de tão estranho nisso? Ainda que eu me confunda nessa massa homogénea que o mundo fabrica e educa dia após dia, agrada-me a diversidade, as vozes que não entoam a mesma melodia... O que há de belo no mundo é o sim e o não e haja quem saiba dizer não... Quero o direito à diferença!

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

And that's the way it is...

Partículas de sonhos brilham em mil cores à minha volta... E eu agarro-as e rio e aperto-as contra mim... A esperança perdida, a magia esquecida, o meu mundo a desabrochar, voltou tudo e pulsa tão intensamente no meu peito! Quero ser a vida que me escorregava por entre os dedos e sentir cada segundo que passa por mim, retribuir cada sorriso, descobrir mistérios indecifráveis em cada um dos olhares que pousam no meu e me pedem ajuda e voam para longe. É bom estar de volta, abraçar com força esta nova oportunidade de ser feliz e reconhecer-me nas pegadas que vou deixando para trás. Eu de novo, exactamente igual a mim. FDUP... Nunca pensei que me pudesse prender tanto a um lugar, ao que dele emana, a essa paixão comum que nos une, que nos torna tão iguais. Tenho a juventude e a pressa de viver, inflamam-nas os vossos risos e essa cumplicidade que por vezes me faz acreditar que partilhámos uma vida inteira. É bom estar de volta e não ter medo de arriscar, as cicatrizes são parte daquilo que sou, histórias que não vos vou contar, mas que vocês sabem, pressentem, acolhem em surdina, um segredo só nosso... E eu sei que convosco elas estão seguras. Convosco eu estou segura, eu estou em casa...

Liberdade


Ainda hoje não sei se nasci sob o signo da liberdade ou se foi a educação que me deram que me fez assim... Já vi tantas coisas na minha curta existência, praias paradisíacas e tesouros incalculáveis, já toquei obras de homens que mudaram a história, estive em cidades onde faz sempre frio, cidades que foram reconstruídas e outras que vão desaparecer, conheci pessoas que cantam e dançam para espantar a tristeza, pessoas que vendem a alma porque lhes roubaram a oportunidade de serem gente e outras que vivem despreocupadamente uma vida normal. Sempre gostei de observar as pessoas e as casas, cada luzinha acesa uma história para contar, cada olhar uma mágoa, um amor escondido, um segredo por revelar. E há tanta diversidade neste mundo! É perfeito... Tudo tão perfeito... E eu tenho tantos sonhos que eles quase nem cabem no meu peito e ainda assim nunca falei deles, é minha identidade secreta, aquilo que tenho de mais meu e, às vezes, tenho medo que seja incompreendido. Quero tanto voar, tenho a alma livre e o desejo intenso de absorver cada pedaço de terra, a ânsia de procurar as minhas origens, que não são de lado nenhum, eu sou do mundo e ele é meu. Conhecer, conhecer, conhecer... Até me vencer o cansaço.

Só o Amor é real...

Saltas muros e barreiras
colhes frutos amargos.
Deixas-te levar,
fechas, e abres os olhos de novo.
Tudo permanece igual,
assustadoramente igual...
Inócuo, vazio...
Dás voltas nesse vazio que te espreme a alma,
falta-te a força que te prende ao chão
flutuas num deambular solitário
por sonhos e anseios,
por memórias e sentimentos,
por instintos e anseios,
sorris enquanto deambulas no teu sonhar
choras por não poderes projectá-lo no teu mundo palpável,
no amor, no ombro porque anseias.
Mas um dia, vais ver...
Um dia poderás chorar todas essas mágoas,
vencer todos os muros e barreiras,
apagar com um beijo o trago amargo que trazes,
abrir os olhos de novo e veres o mundo transbordar de vida,
sentires-te no teu chão e a sorrir de felicidade.
E projectar todos os teus sonhos, sentimentos, estímulos e anseios,
nesse ombro que te acolhe como um berço
indestrutível, eterno, arrebatadoramente aconchegante...
Nesse dia que há-de chegar,
hás-de sentir a luz em ti
e saberás qual o teu caminho...

João


Se um dia acordo e não reconheço o meu mundo em destroços; se tudo o que antes fez sentido, agora se confunde na poeira das horas vazias e a noite me apanha assim, desprevenida... ergo os olhos para o céu e há sempre estrelas, pequenas luzinhas, quase passam despercebidas, mas nunca deixaram de lá estar, para mim, para o dia em que o chão me falta. Vão-se acendendo, uma a uma, os abraços - nunca demais -, as palavras - sempre doces - e aquela capacidade de arrancarem um sorriso à dor... Amigos são pedacinhos de céu e, quando viram o mundo ao contrário só para se encontrarem com a minha perspectiva, eu sei que só o Amor é real. Sinto a força deles, que me embala, que me empurra para a frente, e sei que não poderei estar triste enquanto houver estrelas a brilhar...

Obrigada, João, por me teres aceitado, compreendido e gostado de mim como eu sou, por deres lustrado os meus sonhos quando desisti de os sonhar e mos teres devolvido, com um sorriso, para os voltar a agarrar.

Obrigada a todos aqueles que enchem os meus dias de cor... Este espaço é para vocês. Se conseguir um sorriso, terá valido a pena.