terça-feira, abril 11, 2006

Amo.te Porto

Quem vem atravessa o rio
Junto à Serra do Pilar
Vê um velho casario
Que se estende até ao mar

Quem te vê ao vir da ponte
És cascata sanjoanina
Erigida sobre um monte
No meio da neblina

Por ruelas e calçadas
Da ribeira até à foz
Por pedras sujas e gastas
E lampiões tristes e sós

Esse teu ar grave e sério
No rosto decantaria
Que nos oculta o mistério
Dessa luz bela e sombria

Ver-te assim abandonado
Nesse timbre pardacento
Nesse teu jeito fechado
De quem mói um sentimento

E é sempre a primeira vez
Em cada regresso a casa
Rever-te nessa altivez
De milhafre na asa

Rui Veloso/ Carlos Tê


És tu, belo e sóbrio, só tu, que estás enraizado em mim. E não importa quanta sede de mundo me desespere, nem o quão fascinada um dia me quede por alguma cidade; não importa quanto tempo permaneço nela, nem se continuo a voar... Serás tu sempre o chão, é sempre aqui que vou voltar.
Paris tem o romantismo das melodias melancólicas que o Sena arrasta ao passar e um céu pintado em tons de azul e magenta por pintores boémios que ainda deambulam por lá. Roma tem o cheiro da História nas paredes e a alegria barulhenta de pessoas que não pensam demais na vida. Amesterdão transpira uma beleza segura de si e cativa com promessas de novos mundos. E Londres, Nova Iorque, Berlim e... Todas elas e nenhuma em ti. Meu Porto sujo, meu Porto cinzento, meu Porto abandonado... Se não fosses assim, não eras o meu Porto.
Gosto de te olhar, frágil mas altivo, com o coração em ruínas mas o orgulho intacto. Por um momento, suspendo a respiração enquanto atravesso a ponte e te vejo aproximares-te devagar. És majestoso, na placidez sombria dos teus dias, no brilho inebriante das tuas noites. Envolves-me nos teus braços ternos, no teu cheiro a glórias amarrotadas pelo tempo e a mar, e eu sinto que é aqui que pertenço... Só em ti me sinto em casa. És como uma paixão antiga, aquela que se tatua sob a pele e nem o sal dos anos detiora. Meu velho e triste Porto, és alma em mim. Fundida em ti, posso esquecer-me de mim nas ruas e encontrar-me no norte de cada olhar, tão perdido em dúvidas e medos quanto eu. Olho as pessoas que desaparecem nas esquinas e as que assomam às portas protegida por uma sensação de familiaridade, há uma identidade comum que nos corre nas veias.
É sempre com prazer que te recebo, entrando-me pela janela, revolvendo indiscretamente os segredos que também são teus. É sempre com um sorriso que te encontro, que te percorro, que te descubro. Porque tu és um abrigo renovado, um mistério reinventado a cada manhã.
Trazes em ti a doçura do rio acariciando as encostas, a rebeldia das ondas despedaçando-se contra a foz, o cosmopolitismo das multidões anónimas, o misticismo dos parques onde os amantes se escondem dos olhares do mundo... Trazes no peito mil estórias de amor e de perda, pegadas vivas da existência de alguém. E é por isso que és tão intenso, porque ardes no fogo dos sentimentos verdadeiros.
Meu Porto, mágico de ilusões destroçadas, sobre ti construi o meu passado e, eu sei, conheces-me a alma pelos sinais. Em ti desaguarei um dia. Porque é esse o destino de quem ama...

1 comentário:

Sandra disse...

Ai Sammy este post...nem sei o k dizer sobre ele!
Esta cidade tão especial, k nos faz sentir como nenhuma outra!Que nos faz orgulhar de estudarmos nela, vivermos nela e, claro, de termos nascido nela!Um orgulho tão grande que nos faz "discutir" quando nos dizem que não é a nossa cidade, não é=)?
Mas tu conseguiste transmitir muitas das coisas que o Porto, e só ele, me faz sentir...«Gosto de te olhar, frágil mas altivo, com o coração em ruínas mas o orgulho intacto.» e «Só em ti me sinto em casa. És como uma paixão antiga, aquela que se tatua sob a pele e nem o sal dos anos detiora.»!
E podia continuar aqui por muito mais tempo a falar sobre a nossa cidade mas vou-me ficar por aqui!
Só para dizer que a música que escolheste não podia ser mais apropriada!
Bjinhos grandes amiga**********