sexta-feira, agosto 10, 2007

Palavras para quê?



Hoje apeteceu-me desesperadamente soltar as palavras, enrugar os sentimentos até os fazer caber na ponta da minha caneta.

Quase violei a ética dos silêncios no pânico de esquecer o som da minha voz. A violenta beleza do mundo que me sacode os passos tortura-me a existência com a certeza de se apagarem a cada virar das horas. [Tenho a alma embriagada de eternidade e a humanidade aprisionada dentro das quatro paredes da lucidez.] É de novo aquela claustrofobia espremendo-me o coração no papel, de novo aquele desejo de escrever esmurrando-me, rasgando-me os poros ao faro do sangue, algo que prove tu és, tu estás. Como se, quando ninguém me pode encontrar, eu não existisse.

Quase verti, quase traí os segredos. Tê-lo-ia feito, não fosse a picada de vazio, precedendo o orgasmo das palavras que consumam as memórias, doer-me o esófago e, no vómito compulsivo das vogais, descobrir que lhes azedo a magia.

Só então percebi a burocracia dos meus textos, submissos, como pedindo licença para acontecerem. Não preciso que me passem um certificado de vivência! Os momentos têm a consistência da minha energia, são carnais e apodrecem.

Mas porque é que isso me há-de importar?

8 comentários:

M disse...

Porque sim!

Cátia disse...

Existem momentos em nós que nao sabemos explicar.. Queremos dizer, falar... gritar sentimentos, mesmo que apenas através da ponta da caneta. Os momentos são teus, ninguem tos poderá tirar... Trair segredos? julgo que nao... o vazio e o vomito das vogais não permitiram... Guarda-os em ti, porque é aí que reside a magia.

Venho agradecer-te a visita no meu cantinho. Nele escrevo tudo o que me apetece e sinto, e se neste momento preciso pedir ajuda a Deus, faço-o tambem publicamente. O Ticho, é reflexo de mim... Gostei deste teu espaço, voltarei. Fico a aguardar novas visitas por lá tambem.

Beijinhos

pecado original disse...

Encontar-te aqui é alguma coisa inexplicável (terei já te dito como sou fã das tuas palavras?!).
Sofres da violencia de amar tanto que chega a doer cá dentro.

Momentos. O que é isso?

Duca disse...

Uma agradável surpresa este blog.
Textos escritos com a magia de quem muito vivência sentindo.

Parabéns! Serei visita assídua.

Aproveito para te agradecer a visita lá ao Tempus.

Beijo

Elsa Sequeira disse...

Passei por cá!!
Adorei! hei-de voltar!!!

Beijinhos!!!

Anónimo disse...

Uiii...
Que texto dolorosamente lindo!

"o orgasmo das palavras que consumam as memórias" - excelente!

Os momentos não apodrecem! Recuso a deixar que os meus apodreçam... estou certa de que fazes o mesmo, e qd enrugas os sentimentos até os fazer caber na ponta da tua caneta, tornam-se imortais! E é isso que fazes!

Ler-te é um arrepio, uma vertigem!

Tinha saudades de o fazer!

Beijinhos

Joaninha disse...

Confirma-se que a boa escrita por estas bandas não vai de férias!
Palavras poderosas, como sempre, quando se tenta compreender o vazio, o silêncio ou a procura.

Anónimo disse...

É optimo encontrar blogs como este.