segunda-feira, setembro 11, 2006

Crush

Fotografia de Martin Roger


Falar sobre amor e ódio, sobre medo e racismo, sobre injustiça e vingança... Falar sobre tudo isso é dizer mundo. O mundo que gira para cada um de nós, entretecendo, quase sem nos darmos por isso, o nosso destino com tantos outros que se cruzam no nosso caminho, por vezes estrelas cadentes perante os nossos olhos mal habituados à escuridão do céu, outras tantas tatuagens que permanecem alheias ao passar do tempo. Atiramos gestos irreflectidamente, como beijos ou como pedras, e nunca sabemos onde vão cair e o estrago que farão. Por vezes, distraidamente, mudamos o ser de alguém num único momento, irrepetível. Só quando soubermos isso, perceberemos que temos o mundo nas mãos. Somos pedrinhas lançadas ao rio, tecendo instantes nas pequenas ou grandes ondas que formamos ao nosso redor, espelhando nelas a nossa alma. No silêncio de cada passo, deixamos pegadas nas vidas que nos rodeiam e o que escrevemos será um dia a recordação que deixaremos para trás. Somos fontes de energia a transbordar, produtos da sociedade e dela absorvemos o cansaço e as frustrações, o altruísmo e a solidariedade. Então que sejamos aquilo que desejamos que os outros sejam para nós.
Algo neste filme sobre a vida no seu estado mais puro me lembra “Favores em Cadeia”, a repercussão impensável de cada uma das nossas atitudes, como um dominó interminável que afecta até o mais longínquo dos seres, ligado a nós por um cordão invisível de afinidades. Gosto assim do dramatismo impudorado de uma realidade que se sabe cruel, mas ao mesmo tempo tão doce, quando a ternura, o amor ou a honestidade encontram o seu lugar num mundo esquecido de amar. No fundo, a primeira frase será sempre a mais importante... O mais doloroso é que todos sentimos o peso da solidão, tão colado aos nossos ombros que colidimos, colidimos a todo o momento, pelo prazer do toque, para nos sentirmos humanos. Em todos nós há um muro à espera de ser derrubado, às vezes basta um olhar, outras vezes é preciso força de leão para levantar uma pessoa das sombras. Mas todos nós - todos, sem excepção - esperamos que uma mão se estenda, que um sorriso se abra e nos mostre que conseguimos ser pessoas melhores todos os dias.
Vê a pessoa pequena e insegura em mim, em cada um, para além do orgulho e da arrogância que me gelaram no rosto. Vê o quanto preciso da tua paciência, da tua compreensão. Não julgues, nós somos as circunstâncias que nos moldaram e tu não sabes como é ser eu. Pensa em como sabe bem o sorriso de um desconhecido na rua, quando alguém que vês todos os dias e mal conheces te tece um elogio ou desculpa os teus erros e te recebe com um abraço sincero. Agora concentra-te na sensação de bem-estar que te envolve e imagina o bem que instantaneamente desejas fazer a essa pessoa. Pensa em como seria bom se isso estivesse sempre a acontecer. Estamos todos ligados, como uma cadeia de peças tocadas pelo vento... O primeiro a cair, arrastará consigo os outros, mas, se nos mantivermos fortes e unidos, seremos uma barreira perante a intempérie. Chama-me sonhadora, eu acredito num mundo melhor.

Vamos colidir, encetar duelos de flores. Sejamos espelhos do que nos deslumbra e enterremos na gaveta dos desperdícios aquilo que nos magoa. Façamos por semear um sorriso em cada dia. Irradiemos luz, por todos os poros, como uma borboleta colorida lançando sonhos. Podemos mais do que algum dia saberemos. Arrisca experimentar...

1 comentário:

Anónimo disse...

Minha Querida,
Como sempre...lindo!
É verdade que "...entretecemos o nosso destino com tantos outros..." e quantas vezes nem "esses tantos" nos chegam! Nem ousamos arriscar com os que nos rodeiam...
Caro "Neruda", só um comentário pequenino; quem experimenta arriscar "não tem medo de perder o chão", é uma questão de atitude.
Afinal não é a nós próprios que temos de agradar (com sinceridade) em primeiríssimo lugar?!?!?

Querida Samanta, "my heart is your stone. I'll throw with you" and I'm sure "you'll rise proud (and pure) from between the stones".