quarta-feira, outubro 17, 2007
terça-feira, setembro 25, 2007
Hoje levanto a manhã nas pálpebras, inundando o quarto de dia. Tenho a alma clara, as portadas abertas, os cantos arrumados. Em ti reconheço os contornos de um velho sinal boiando no meu corpo. É natural querer-te, pertencer-te. O meu caminho atravessa as tuas ruas.
[Só hoje sinto-me serenamente perto de mim.]
Em ti, que desconheces a minha cultura, a minha história e a minha herança, que nunca me viste errando pela noite inquieta nem sabes a minha cor preferida, estou inteira. No enleio cerrado das tuas montanhas severas, abraças todo o meu mundo que é tudo e apenas aquilo que posso transportar comigo. Nas teias que me nublavam a razão fui acumulando demasiado pó e frustração. Rasguei-as na ânsia de te alcançar e, na erosão do sangue seco dos sentimentos repisados, a boca soube-me a seiva fresca. Hoje, sob o teu sol, cresço com a força bruta de um fenómeno natural.
[Obrigada.]
És tu a madrugada desperta, um rosto impreciso que desafia os códigos genéticos no autocarro, a conversa no pub regada a cerveja e a nachos, o nome exótico do rapaz na mesa ao lado, mil variedades de queijo e chocolate tentando-me a dieta, uma noite surreal na fábrica abandonada, os passeios junto ao lago e cada beijo que te dou no meio tempo que demoro a adormecer. És tu a coragem de vencer o ridículo, um pouco mais de tolerância. És um punhado de novas palavras todos os dias, excitantes desafios e sensatas lições, incontáveis vitórias.
És o mapa que me leva até mim.
És tu o que sempre sonhei, ainda que tivesses outro nome, outra cor e outra altitude. Hoje não preciso de te perguntar às estrelas.
És tu.
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9:47 da manhã
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sexta-feira, agosto 17, 2007
Homenagem
Os vossos corações de ossos largos
Que me pariram as asas
E moldaram um sol de plasticina
Que, na vertigem das quedas,
Não me derretesse o azul.
Esses corações
Que explodem em fogos-de-artifício
Desligando a escuridão
Arco-íris de Inverno
Nas lágrimas que vos lambem o sorriso
Que me orgulha
Meu Deus, como me orgulha!
O mais do que sou
É o que deixo em vós.
O vento corta-me as penas
E no voo arranha-me o horizonte
Mas tenho nas células tatuada
A herança genética dos novos mundos
Evado-me.
O mais que tenho
É o que levo de vós.
O olhar melífluo
Pousado sobre o mar
[Eu sei que dói mais ficar]
E nos braços força suficiente
Para o desbravar
[Eu sei que é preciso coragem para esperar]
Meus heróis de alma inteira,
Tudo o que levo na algibeira
É muita sede de mundo
E a certeza de que tenho no vosso peito fundo
O melhor motivo para voltar.
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5:36 da tarde
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sexta-feira, agosto 10, 2007
Palavras para quê?
Quase violei a ética dos silêncios no pânico de esquecer o som da minha voz. A violenta beleza do mundo que me sacode os passos tortura-me a existência com a certeza de se apagarem a cada virar das horas. [Tenho a alma embriagada de eternidade e a humanidade aprisionada dentro das quatro paredes da lucidez.] É de novo aquela claustrofobia espremendo-me o coração no papel, de novo aquele desejo de escrever esmurrando-me, rasgando-me os poros ao faro do sangue, algo que prove tu és, tu estás. Como se, quando ninguém me pode encontrar, eu não existisse.
Quase verti, quase traí os segredos. Tê-lo-ia feito, não fosse a picada de vazio, precedendo o orgasmo das palavras que consumam as memórias, doer-me o esófago e, no vómito compulsivo das vogais, descobrir que lhes azedo a magia.
Só então percebi a burocracia dos meus textos, submissos, como pedindo licença para acontecerem. Não preciso que me passem um certificado de vivência! Os momentos têm a consistência da minha energia, são carnais e apodrecem.
Mas porque é que isso me há-de importar?
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5:05 da tarde
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segunda-feira, julho 30, 2007
Fotografar o mundo em mim
É álgebra elementar
Se não escrevesse,
Ainda haveria a minha respiração a embaciar o vidro
E sangue a dar-me corda ao coração
Era ver-me as mãos, descuidadas,
Cravarem-se na saia a cada solavanco de emoção
Tanto faz o sol como a noite mais escura,
E nem que chova ácido e as estações descarrilem,
A paisagem corre nos seus trilhos
[Sem romantismos,
Fantasias ou patéticas poesias]
À hora marcada, trepida e apita nos apeadeiros
E, no frémito das chegadas e partidas,
Embrutece-me o cinzel.
Mas se eu não escrevesse
Tu morrias comigo.
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3:16 da manhã
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sábado, julho 21, 2007
Apatia
Olhei para o lado, ela ainda estava lá. Silenciosa e desafiadora, uma gota de água irritantemente suspensa na torneira. Não tinha nada de memorável, era translúcida e fria como uma noite de Primavera. Estava somente distraída do mundo, demasiado anestesiada sequer para lhe contar as horas. Talvez se lhe gritasse aos ouvidos, pensei, e logo a seguir tive a certeza que seria uma perda de tempo. As emoções aborreciam-na e os sentimentos eram um luxo que há muito tinha empenhado junto com o ouro que a avó lhe ia dando pelos anos, prendia-a apenas o infinito tédio de estar viva. Devia conhecer-lhe o zumbido arrastado, porque nem olhou para o relógio. Quando o seu comboio chegou, levantou-se sem barulho e sem triunfo, enfiando o espesso livro na carteira e desapareceu atrás de uma porta ferrugenta.
Não a voltei a ver. Nessa noite, fiz uma mala apressada e os primeiros raios de madrugada, revelando as manchas vivas que os pósteres deixaram na tinta desbotada da parede, encontraram o quarto vazio. No momento em que entrei naquele comboio, era eu a minha paisagem em movimento e o mundo pulsava nos estremeções do arranque debaixo dos meus pés. Foi como se tivesse saltado para a tela, assistia finalmente à minha própria história. E o medo, pensei com espanto, era sangue espraiando-me nas veias uma espécie de humanidade, não a dos ossos e dos tendões, mas a de uma eternidade sorvida no debater dos instantes que nos encaminham para a morte. A minha vida é uma obra de arte.
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12:38 da tarde
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quinta-feira, julho 05, 2007
light |up
- Faz falta um espaço teu.
Desde então, tenho reescrito a minha história e tantas outras e descoberto a cada dia o sublime prazer de brincar com as palavras. Fascinei-me pela infinita possibilidade que é o mundo dos blogs, com tudo o que tem de solidão e de partilha, um espaço privilegiado de contacto com a realidade. Não posso negar, estou viciada. O On my own ganhou vida própria e uma personalidade que não se verga a todas as minhas vontades... Mas há mais, outros voos e outros destinos, pelo que tenho hoje o prazer de inaugurar o novíssimo
light up
Substancialmente mais leve, o light up não engorda, nem tem contra-indicações. Criei-o para abrigar e divulgar os pequenos prazeres da vida, complementando com um rasgo de sol o lado lunar [e tão acarinhado] que o On my own continuará a ser.
Bem-vindos a um novo conceito de lazer…
Em http://www.lightedup.blogspot.com/
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7:56 da tarde
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