sábado, maio 13, 2006

Redescobrir a normalidade


Foram tantos os anos em que eu achei que a normalidade era uma doença que eu devia a todo o custo evitar... Tantas vezes me desviei dos padrões e estimulei a diferença em mim, entediando-me com a rotina e amaldiçoando a monotonia. Venerei as loucuras, os saltos no vazio e tudo aquilo que poderia arrancar alguém à multidão e fazê-la brilhar, estrela solitária num céu de diamantes. Mergulhei na história dos Van Goghs e Fernandos Pessoa do Mundo, segui atentamente os passos dos revolucionários, admirei profundamente quem primava pela diferença e fazia os pilares da sociedade estremecer.
Mas agora, depois de virar o mundo ao contrário, dou por mim a redescobrir a normalidade com um estranho prazer. Reencontro-me no caminho de todos os dias e saboreio a alegria de uma vida comum, que para mim já não significa o mesmo que vulgar. Deixo-me dissolver na espuma homogénea da multidão, envolvida pelo conforto do anonimato. A placidez da previsibilidade pela primeira vez não me aterroriza. Aprendo a amar o que me está ao alcance da mão, dou por mim a “desejar impossivelmente o possível”, tomando consciência que construi um abrigo à minha imagem e que não quero sair de lá, não para já. Entendo a beleza da simplicidade, das pessoas que passam por mim e não cativam a minha atenção, das pequenas coisas que estruturam o meu mundo e que eu não conseguia ver por trás das cores berrantes que pintava num horizonte sempre inalcansável.
Porque para deixar a minha alma voar preciso de ter os pés assentes na terra, porque a liberdade começa em mim, porque onde quer que me leve o fascínio estas são as minhas raízes... Quero amar o meu dia-a-dia, deliciar-me com tudo o que sempre esteve por perto, conhecer os voos do meu doce quotidiano sem pretensões de maior, entregar-me aos braços que se abrem sem os olhos turvos de sonhos irrealizáveis e outras quimeras. Só assim posso sentir-me em mim, porque me cansei de buscas infrutíferas. É um sentimento novo, estou embriagada dele. E hoje digo sem medo: dêem-me aquilo que eu posso esperar. Desta vez eu não fugirei... Prometo, eu fico.

2 comentários:

Anónimo disse...

É incrivel, fascinante e muito absorvente tudo o que escreves, da forma como escreves e todos os sentimentos e emoções que transmites!
Eu "admiro profundamente quem prima pela diferença"...
Eu ADMIRO-TE! ;)

Beijinhos

Anónimo disse...

A normalidade como uma doença tem a sua lógica amiga;e a diferença talvez uma filosofia de vida;uma rotina;uma forma de afirmaçao;uma maneira de atingir a felicidade;o k vale é k a verdadeira amizade não faz distinçoes;
Diferente ou não; és linda por dentro e por fora; conheço te bem;estou aqui;cumplice nessas tuas redescobertas;SEMPRE AMIGA

beijinho em si ma petite

je t'aime***